- Quem sou? É difícil determinar.
Sou a fuga para alguns, a coragem para outros.
Sou o tambor que ecoa nos terreiros, trazendo o
som das selvas e das senzalas. Sou o cântico que
chama ao convívio seres de outros planos.
Sou a senzala do Preto Velho, a ocara do Bugre,
a cerimônia do Pajé, a encruzilhada do Exu, o
jardim da Ibejada, o nirvana do Indu e o céu dos
Orixás. Sou o café amargo e o cachimbo do Preto
Velho, o charuto do Caboclo e do Exu; o cigarro
da Pombagira e o doce do Ibejê.
Sou a gargalhada da Rosa Caveira do Cruzeiro
das Almas, o requebro da Maria Padilha das Almas,
a seriedade do Seu Marabô. Sou o sorriso e
a meiguice de Maria Congá de Aruanda e de Pai
José de Aruanda; a traquinada de Mariazinha da
Praia, Risotinho, Joãozinho da Mata e a sabedoria
Sou o fluído que se desprende das mãos do
médium levando a saúde e a paz. Sou o isolamento
dos orientais onde o mantra se mistura ao perfume
suave do incenso. Sou o Templo dos sinceros e o
teatro dos atores. Sou livre. Não tenho Papas. Sou
Minhas forças? Elas estão no homem que sofre
e que clama por piedade, por amor, por caridade.
Minhas forças estão nas entidades espirituais que
me utilizam para seu crescimento.
Estão nos elementos. Na água, na terra, no
fogo e no ar; na pemba, na tuia, no mandala do
ponto riscado. Estão finalmente na tua crença, na
tua Fé, que é o elemento mais importante na minha
alquimia. Minhas forças estão em ti, no teu interior,
lá no fundo, na última partícula da tua mente, onde
Quem sou? Sou a humildade, mas cresço quando
combatida. Sou a prece, a magia, o ensinamento
milenar, sou cultura. Sou o mistério, o segredo, sou
o amor e a esperança. Sou a cura.Sou de ti. Sou
de Deus. Sou Umbanda. Só isso. Sou Umbanda.
Texto de Elcyr Barbosa, JUS, fev 2016